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07/05/2014

Sombra no Metro

Lá está um Homem.
Um com um olhar torcido e gemido num passado.
Passa por ser um a mais e nada mais a mais do isso.
As pessoas todas cruzam-se nas ruas, 
entrelaçam ombros em encontrões cinzelados.
Ele está assumidamente a pedir esmola;
uma soma que lhe traga o dom do esquecimento,
o calor no estômago.
Pedindo a quem tem esmola apenas para dar.
As suas mãos despidas de um toque de gente,
que por um toque singular, 
tremem por ansiar.

Ele ainda lá está, 
sentado, prostrado, 
honradamente desonrado, 
nu de humanidade;
com as vestes do luto da indiferença,
manto esburacado de uma tragédia pessoal e apenas sua.
As portas do Metro abrem e se encerram.
As avalanches de pressas escoam e se intrometem.
Todas as gentes trazem algo para fazer, 
um sítio para estar, 
um apontamento de agenda para cumprir.
Aquele ser rasgado, emporcalhado, 
de olhar insone de memória de viver bem, 
ali continua.
Faz ele tão parte deste quadro impressionista...

Como a linha amarela que não se deve atravessar, 
ou a escada rolante que nos fomenta a doce preguiça do parar de caminhar.
Voltam e despedem-se, 
avistam-se e recebem-se.
Estas paradas de seres que só o notam no momento em que do bolso 
retiram uma moeda de qualquer denominação acessível e dispensável;
apropriada ao sossego das consciências.


Lá está aquele Homem.
Qual será o nome com que um dia nasceu.