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31/01/2014

Mrs. Nancy

Digo tantas vezes que te amo pela incerteza, 
de quantas mais vezes o poderei eu dizer.
Vejo a tua face como se vislumbra a face de um anjo num sonho.
Um sonho do qual se pudesse,
não despertaria,
do qual temo acordar e acabar por deixar de saber sorrir.

Por isso, amo-te.
Amo-te tanto!
Alegro-me a ter mais um dia em te posso dizer isto.








Horizonte

Nunca soube.
 
Nunca decidi ou ponderei o que haveria de ter feito ou não.  
O meu viver é um aglomerado de notas de rodapé.  
De impulsos e de desejos ditos de coração.  
Os meus rumos têm a aparência de terem sido desenhados   
com o uso de esquadros disformes.  
Luto sem sentido.  
Medi com recurso a um compasso quadrado as minhas rotas.
Uni com um tracejado por pontos cada próximo passo a dar,  
cada destino final.  
Tenho alguém a quem importo, 
uma que por mim choraria.  
Senão Ela quem mais?  
Não fui temerário nem explorador ao acaso.
Sempre assumi o meu caminhar.  
Assusto-me apenas agora com o facto de não conhecer,   
o lugar para onde os meus olhos se dirigem.  
Sempre desejei não ser mais do que quem ama.
Quem ama bem.
 
Eu nunca soube.









Reticências

Digo o que não quero mas sinto.
Passo por ser indigno e percorro-me a buscar
o rasto do toque da tua mão.

Sobre os meus olhos nada vou afirmar-te.
Neles está a minha vida a nu, concreta.
A tua ausência é a minha ruína.
O meu anoitecer.

És o fado com o meu nome na quadra certa.










Ilusão

A minha vida é nada mais do que a adição de dois estados;
passado e presente.
O futuro não conta.
É para mim relevante e assume a sua finalidade quando for presente.
Reina na sua irrelevância quando se tornar passado.
O futuro tem tudo para ser uma incerteza certa de mágoa, 
ou uma incerta certeza de plenitudes.
Não o desejo ter em espaço de consideração.
Não o enuncio ou o declamo.

A minha existência tem dois estados e dois são o bastante.
O futuro está cheio de supremas incógnitas.

Sei-o bem.







30/01/2014

Partitura

Vejo-te.
Tão bonita e imperturbável na cama desmanchada,
uma testemunha silenciosa das nossas acções sem sono. 
Estás prostrada como uma metade de mim.  
O cabelo desbravado no travesseiro.  
Um só lençol a ser desleal e a permitir adivinhar sem esforço, as tuas formas.
O teu braço acorda e procura-me ao lado.  
Os teus olhos ainda meio adormecidos,
suspeitam do que o teu braço não presume.  
Procuras-me.  
Encontras-me tão rapidamente que o anuncias com um sorriso.
Redigo que estás linda agora em voz alta.  
Dizes que são palavras de quem ama e não muito objectivas.
Falas-me então dos teus defeitos matinais.
Eu sem incertezas, contrario-os todos enamoradamente.  
Chamas-me para a cama e apelas aos meus lábios beijos aos teus.  
Estão quentes e ao meu gosto,

beijo-os como se cada vez fosse a ultima.  
Passamos a ter um só nome, só uma só certeza.  
Destinado a ser teu abandono-me na tua sedução sem medo.
 
És musica e no meu coração a única partitura que lá vive.