Não essa palavra... Feita de migalhas de sangue. Sofrida nas amarradas de uma espada que treme e verga. Não sei do barro que me formou, da sede que castiga a minha voz, das nuvens que eram de terra e sem algodão, dos cabelos que eram como a mais doce, suave e amofinada prisão... Sou o caminho. Destino sem destino, pedaço sem começo nem razão... Não essa palavra! Feita de tudo o que é imperfeito. Plena de uma vida que se vive numa suposta ilusão... A memória de um dia a sorrir. A fotografia que tanto me pesa na mão. Não essa palavra... "Saudade"... Não!
Percorre-me... Traça-me por meio a meio e separa-me em quatro cantos. Deixa-me aqui, nesta sombra que não conhece o Sol nem o calor de outra coisa que não a tua mão. Vai agora! Solta-te de mim! Sabes de que falo e falo eu do que sei! Não te trago senão passado e de futuro tu és feita! Vai... Dou-me só por grato de ter sido um dos que dormiu a teu lado... Vivo acordado num passado que é só meu hoje e de mais ninguém num outro amanhã. Lembra-me como um objecto que ficou para trás esquecido, depositado numa gaveta que de tanto empeno; não se abra mais.