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31/07/2014

Morte breve

Adormecer.
Deixar ir a escuridão em lugar do sangue nas veias.
Abandonar o corpo ao jugo meloso da cama desfeita.
Sentir o sono anunciar a sua pertença e morrer nele
coberto no lençol manto mortalha.
Esquecimento repousado.

Nem que seja por uma hora,
dormir sem memória de estar acordado.


A quimérica ilusão de paz.







Imenso de mim

Ando a esquecer-me.
Sem saber quantos dedos tenho na mão esquerda,
nem como cai o meu cabelo na testa.

Assim posso começar outra vez 
a conhecer a linha do meu rosto
sem ser desenhada pela lágrima que cai só,
lhe dá contorno e lhe ordena que é meu.

Quero mais.







Lista

Uma casa como que encantada.
O lugar do meio num sofá de três lugares.
O seio direito.
As estradas que não são denotadas por não irem a lugar nenhum.
A critica dada em voz alta.
Encontro de elogios.
Arremesso uma gota de chuva.
Sensações na pele que a mesma encrespam.
Oposição de costas molhadas.
Sublimações respiradas.
Recantos selados na alma.
A cor de limão.
Sopas de café.
As latas de feijão manteiga empoleiradas
em padrões arquitectónicos no hiper.
A glória da juba de Caetano.
O corredor da porta de entrada com soalho brilhante 

em madeira anciã polida.
As garras da gata nas aduelas mastigadas.
Cemitério de desejos.

Reparo e recordo estas imagens, 

sensações, 
atalhos...
Não sei sequer porquê.

Alquebro-me.

Olha para elas como se vê uma lista de compras por fazer,
esquecida num bolso de um casaco arrumado.









"A"

Eras "aquela" para mim.
Eu não era "aquele" para ti.

Não quero ser mais o "aquele" de ninguém.

Quem me quiser, 
tem de saber o meu nome,
o meu cheiro, 
reconhecer as minhas pegadas no escuro,
ter a sombra da minha mão no peito.

Será assim,
a Mulher para mim.




Dois

Duas mãos.
Dois dedos de conversa.
Dois segredos atirados 

ao meio das bocas.
Duas cabeças em razão 

de não terem razão a ter.
 

Um par.
O duo que passa a ser 

um sem par.
O que se torna único 

na vida de dois seres 
separados na carne,
mas com a alma fundida.
A Ursa Maior e a Menor 

sem saber qual é uma e a outra.
Dois corações que devem ser 

a união ao mesmo peito.
Um par de asas do mesmo Anjo.
Duas portas que só dão 

para o mesmo lugar.
A confluência de duas sendas, 

num trilho pela vida fora.
Um rio com duas nascentes.


Tudo isto 
deverá ser isto.
O amor tem de ter 

estes predicados.

Principalmente,
um par de gente.




O meu traço aqui

Escrevo.
Escrevi e faço disso uma obra e missão do dia à dia.
Escrevo e não quero nunca mais parar de escrever.
Não porque mereça ser lido.
Não por ilusões de grandeza.

Só porque isso faz de mim o que eu sou.


Ausência

A tinta descascada da parede 
sem tinta por completo.
A sombra que cai sobre o chão seco 
de cimento pedra gelo.

O gesto da manhã ao desfiar 
o princípio do dia.
Os prometidos desejos a desejar 
não serem mais necessários de desejar.

Os sapos gordos, 
verdes, 
asquerosos, 
amenos e posicionados 
também no seu lugar.
As lágrimas retidas 
quando as pálpebras se fecham e se trancam 
ao mundo em cegueira assumida.

Todas as folhas tombadas 
aos pés das árvores,
testemunhas de uma mudança sofrida.
Todos os frutos do pomar dos sonhos das crianças 
que já ousam a sonhar.

Somente as toalhas de banho usadas,
pistas deixadas 
do perfume da pele misturada dos amantes.
Somente as folhas em branco de um livro
onde se escreve um nome vezes sem conta.

Rosário de lábios e bocas em beijos 
vitais e incessantes.
Rosário de recordações 
de perdões dados,
apartados,
gemidos, 
desconsolados, 
adocicados e desmedidos.


Trago tudo dentro mim.
Por fora e do meu avesso. 



Vejo só a distância de não te ter aqui...








Estaticamente

Sobre a água de fogo.
Em cima das asas da gaivota teimosa em voar ao vento súbito.
Sob as folhas o eucalipto charmoso e descascadamente despido.

Estou nem aqui nem acolá.

Vou passeando ao modo dos canaviais que viajam tanto
mas sem sair sequer do lugar...








Saber de mim

Antes que murchem todos os amores,
antes que a luz se escape de vez da janela deste mundo,
antes que o mar seja só uma onda sem par, 
antes que os cascos da montada não descubram mais o caminho para as terras novas,
antes que a ceifa finde e não haja mais trigo a ceifar,
antes que as paredes caiadas quedem-se negras do descuido,
antes que o meu olhar seja olhar de um mudo,
antes que o deserto tenha água a céu aberto,
antes que as baleias abandonem os oceanos rasos,
antes de saber o meu rosto tacteado,
antes que o fogo deste lume irado sucumba em mim,
antes que uma virgula esteja no lugar de um ponto final,

Choro-te.
Sei o teu nome.
Antes de me esquecer de lembrar-me de ti.









Escuro

Milagre de luz.
Milagre sem ser.
Milagre dado ao anoitecer.
Milagre fugidio.
Milagre açoitado com leveza das palavras acostadas.
Milagre soberbo e pranteado.
Milagre vivido por ser um milagre sorrido.
Milagre da única lembrança que sobrevive.
Milagre repetido.
Milagre que não o é.
Milagre arrebatado ao som do trovão.
Milagre passado.
Milagre do passado.

Não és mais um milagre.
Só a recordação breve do regaço de um alguém que eu amei. 



Expressões

Eu digo que gosto de ti.
Digo que gosto de ti como quem diz que te ama.
Como sinto este amor,
prefiro dizer-te que gosto muito de ti.
Dizer "amo-te" parece já muito corriqueiro.
"Amo-te" soa-me a algo já visto, 
fácil demais de ser dito.
Soa-me a somenos!
"Gosto de ti" é dito com verdade!
Gostar de alguém assim é pouco usual.
Sei que gostas de mim.

Gosto de ti.
Eu gosto tanto de ti!
Como quem muito te ama...








30/07/2014

Sem meio nem fim

Como um mar sem marés.
Onda sem espuma alva e borbulhante.
Como um rio sem foz.

Incompleto.
Incerto e com a certeza disso.

Como um prato sem margens.
Um relógio sem ponteiros a marcar as distâncias.
Tal qual as gotas de chuva 
que param a meio do céu e gelam.
Os charcos de água parada no momento 
até que um pé nu os pisa.
Um mapa sem os nomes das terras, 
só os números das estradas.

Sinto-me assim nestes estados...

Tenho a dor apenas com o nome que lhe dei.
Assim a levo aos meus braços e a escondo em silêncios gritados em mim.







Onde vais

Uma rosa de pedra.
A echarpe esquecida na ombreira do sofá.
O choro deitado fora.
As luzes a sombrear as ruas do meu caminho, 
como se o meu caminho fosse das ruas.
Suspiros por dar ao ar da noite.
Remorsos em chagas deitadas.
Raivas consumadas numa cama de lençóis molhados
com suor e outros líquidos doces nascidos dos nossos corpos.
Momentos em nuvens brancas
promessas de dias sem chuva ou de dias de calor terno.
O mar azul e mais azul, sempre azul e frio, fresco, forte, farto, frontal e  sem fim!

Uma rosa de pedra.
Imagem repetida do meu coração.
Até ao pormenor dos espinhos...









Já tarde

Não entendo o que escreves.
Não vejo nas palavras o seu directo sentido e por aí,
vejo que não escreves para mim, 
para o meu entendimento.

Não trago neste pensamento a ideia fácil do abandono 
em esquecimento.

Sei-me já esquecido e sem lugar 
no teu lugar.

No entanto,
bastaria só um murmúrio teu.
Eu diria também então:

"-Vamos viver!."







29/07/2014

Recado fechado

As horas não sabem a nada.
Os dias não comportam nenhum sabor.
Trinco as semanas como quem morde 
uma bigorna rija e sem vestes..
Não trago sangue nas veias.
Sequei.
Sou um com o ponto de rotura de tudo e de todos.

Neste dormitar inconspícuo,
passam os segundos por mim,
como um gesto de adeus 
no breu dos primeiros passos da noite.


As horas parecem já não saber quem são.
Conto o tempo por elas, as anónimas.








23/07/2014

Dueto

Uma vez.
Um segredo que já é conhecido e perde o seu sentido,
dando-se como sentido por já ser sabido.
Um sorriso.
Um esgar de vergonha redonda.
Um olhar e um desejo de um beijo pedido a duas vozes.

Uma vez.
O primeiro encontro.
Os olhos que sobem montanhas em maravilha.

Uma vez.
Uma palavra primeira.
O primeiro suspiro de peso leve.

Tu.
Um a dois.




22/07/2014

Gosto de ti

És mais que uma voz 
ao longe ao telefone.
Mais que uma luz 
que se acende e aclara tudo.
És como água nova e eu 
sou a abandonada nora
a quem beijas e devolves a vida.

És tu o meu nós.
És e eu agora sou.
Tu asa e eu céu.
Eu mar e tu areia imensa.

És mais do que pensas.
És um poema onde eu sou estrofe.
Se sou sul,
é porque tu és norte. 
Mesmo longe estás perto.







Moça

Quero o teu perfume.
Quero ver os teus olhos 
quando despertas.
Desejo descobrir os teus jeitos 
quando dormes.
Quero conhecer o sabor da tua boca.
Saber como é ter 
a tua mão abraçada na minha.
Ver como descascas a fruta.
Quero reconhecer 
a tua roupa no estendal.
Ser eu em quem tu te aninhas.
Ouvir o som dos teus passos 
com chinelas de enfiar no dedo.
Sentir-te nas pontas dos meus dedos. 

 
Quero ser teu.







19/07/2014

Gestos

Estão em silêncio
sentados lado a lado.
Mãos embrulhadas em sinal
de união natural.
Expressões serenas,
olhares trocados sem vocalizações,
sem frases feitas e fúteis.
Vão juntos não sei para onde.
Reparo neles por estarem
assim de grosso modo,
perfeitamente,
à vontade
um no outro.
Em pequenos gestos tão meigos,
que só podem ser por amor.
Chega a ultima estação, o fim.
Saem eles e saio eu.
Perco-lhes o rasto.

Fico-lhes com a memória bela.






17/07/2014

1.56

Vi os silêncios ficarem sem razão.
Vi os momentos ganharem o seu pão.
Vi as viagens a saberem
que trazem um destino na mão.

Vi que as ditas dores,
podem ser só recordações
de uma passagem
de mágoas a esperança.

Vi que as janelas fechadas
podem estar só encostadas
em tímida assunção a desejo
de ar fresco.

Vi que numa palavra
o Sol renasce e tolhe a noite anafada.
Vi que as pedras podem ser chão.
Vi que o caminho é uma escolha,
não uma imposição.

Vi que sei o que é a chuva,
o mar, as sebes verdes e frescas,
as luzes da ponte ao longe
que desejamos apagar num sopro,
a pele dos pêssegos peludos
que me arrepia,
o cheiro dos incensos
imortais imprescindíveis,
a luz dos olhos de uma criança...


Vi agora tudo isto,
numa estranha
voz rouca, forte,
de doçura intensa
que recorda-me
que ainda é bom
estar vivo.







16/07/2014

A utopia do meu lugar

Laranjas.
Arrumadas no centro da mesa.
Doces e anafadas.
O cesto da roupa no lugar 
do cesto da roupa.
O espelho com a nódoa 
que não é nódoa, 
mas falha simples no espelhado.
As velhas fotografias 
que tem imagens 
de sítios já novos.


Tudo tem o lugar presumido.
Menos eu.

Toco a distância e afasto o que está perto.
Estou entre o espaço que 
medeia o principio do céu 
com o fundo do mar.

Não sei voar nem nadar.







15/07/2014

Ausência

Saro as chagas na pele.
Corro com as chuvas descaídas.
Vejo as asas daquela gaivota alva,
a deixar cicatrizes molhadas nas águas do rio.

Sobejam-me as palavras que não te disse.
Recebo as frases mordidas dos teus olhos calados.

Não estás aqui.

Saro as chagas.
Guardo com as feridas.







13/07/2014

Ígneo

Não.
Essas palavras tidas deste modo baixo,
não!
Escrevo,
falo,
rumino e cuspo em revolta cardada!

Não gosto da ideia 
de que se deixem repousar,
que se coloquem de molho, 
os pedidos do peito, 
as frases a preceito do coração!
Aquilo que se dá num milagre próprio...
Efémero e impossível de religar.
Não se tomem pelo que não são.

Se a palavra é o que é,
se o que se diz 
é o que a razão não limita,
se o que as mãos e dedos 
traduzem em sons,
se o céu é o céu e eu sou só eu,
porque colocar 
bâton vermelho sedutor,
num porco engordado para a matança?


Escrevo.
Se o faço bem ou não, 
interessa-me de grosso modo.
Para mim,
um minuto é mais que sessenta segundos
e cada segundo,
tem de valer por sessenta minutos.
Mal ou bem.

Só quero que quem me leia,
sinta o que eu sentia,
ou sinta o que já sentiu ou irá ter por 
seu um dia.


O resto, 
é o resto e tem por si,
a verdade que tem.
Podem ser sombras, ecos, fruta e sal doce.
Como dizia José Carlos Ary dos Santos,
"Eu quando digo a palavra merda,
na minha boca ela é também poesia".

Mas façam o que entenderem.
O papel é de todos. 
As palavras não são só minhas.









12/07/2014

Ceguei

Tomo assento no vento castrado.
Calo a noite violada arrevesadamente.
Cravo os dentes na madrugada vasta  e chula.
Trago o sol remetido a monte comigo.

Ajoelho-me.

Olho-me no espelho.
Aquele que lá está,
não é mesmo quem eu sou. 







10/07/2014

Cidade

Telhados doces.
Janelas com cortinas 

de rendas de outros tempos.
Portas com aldrabas 

de ferro fundido negro.
Paredes de tantos segredos 

como tijolos.
Ruas com pedras polidas 

de tantos passos.
Arcadas mães de redondos 

beijos opacos.
Candeeiros baços ornamentados 

com desenhos passados.
Varandas pejadas de flores
em vasos em canteiros rasinhos.
A drogaria da esquina apertada 

entre edifícios a tombar.
O sapateiro com a montra 

abundante de sapatos sem par.
O fontanário seco agora,
só detendo a memória 

dos cântaros cheios.
A campainha nervosa 

do eléctrico amarelo.
O eco das peixeiras ampliado 

pelas canastras reluzentes.
As noites de fado 

dos marialvas e das cantadeiras.
As dores das viúvas 

de xailes negros.
As esquinas escuras 

das prostitutas tristes.
Os combates e as rixas de morte 

entre os malditos.
Passeios estreitos 

com pedrinhas em desenhos idos.
As fachadas 

de azulejo azul e branco.
Os números das portas 

em placas de chapa preta.

Bairros desta Lisboa.
Afago de poetas.
Moradas de tantos.
Jardins com bancos 

de um tempo indeferido.
Ruas, vielas e cantinhos
destas pessoas 

do tempo da outra senhora.

São os nossos tesouros.






09/07/2014

Olhos

Na minha cama
jaz o teu perfume.
Em meu corpo
o recado
da tua língua.
Nas minhas mãos
está presente
em leve momento,
a chama dos teus
seios despertos.
Nos meus cabelos
os sulcos penteados
deixados pelos
teus dedos.
Neste meu peito
notam-se ainda
as gotas de suor
nascidas pela
nossa entrega.
Na ponta
dos meus dedos,
tenho o teu
cheiro profundo.
A minha boca
guarda nela,
o sabor do teu
ventre húmido.
Contudo,
estou assim parado.
sentado 
na cama solteira
que foi nossa.

Procuro só
nos meus ouvidos,
a lembrança
da tua voz.
Sofro a falta
do teu olhar.






08/07/2014

Suplício

Achei um segredo 
no meio dos meus medos.
Encontrei a razão pronta de todos eles.

Eles não dignos de ditarem 
o meu silêncio e o meu maior segredo,
esse é ter medo 
de não gostar de mim.






07/07/2014

Fim certo

Dá-me um beijo.

Deixa-me beijar-te.
Mesmo que agora 
sintas que não me queres beijar.
Deixa que eu só 
te beije.
Que apenas isso eu faça.
Como se a minha vida 
acabe a seguir a esse instante.
Seria o teu beijo
o soneto final 
na minha pouco demorada 
passagem por aqui.
Deixa que os meus lábios 
sejam o par húmido dos teus.
Dá-me um beijo...
Quente ou até frio.
Tu ainda te lembras 
de como é a minha boca?
Sabes ainda onde fica a minha cama?
Toca a minha pele que não se
esquece do velejar dos teus dedos nela...

Dá-me um beijo.
Deixa-me beijar-te.

Mesmo que não tenhas depois
mais beijos para mim...







06/07/2014

Paredes

Céus como tecto 
sem espaços entre as nuvens.
Copos vazios e a monte 
em cima da mesa travada.
Rachas na pintura das paredes 
das salas da casa roxa.
Marcas de pó que assinalam 
a passagem de um dedo distraído.
O segredo por dizer 
em papel escrito.
A toalha turca estendida ainda, 
ruim ao sol seco e ríspido.
O chão de mármore frio, 
com os desenhos polidos dos passos de intempéries.
A calma das plantas de enfeite, 
sem vida e com o arame selado a ferrugem.

Os passos em eco de outros dias 
em que em eco não eram os passos.
Os vidros das varandas 
sujos das poeiras de constantes ventos batentes.
Gavetas fechadas e entreabertas, 
denotando desleixe, abandonos.
Os lençóis intragáveis 
da cama de casal que já não o é.
Perdeu o som da vida o rádio idoso, 
doutros serões de companhias dadas.
Loiças azuis prenhas de lábios e marcas de segredos.

Nada.
Nada e nada.
Silêncio e mais silêncios 
encaixados e amontoados nos dias.
O esqueleto é a amurada 
deste outrora doce lar.
O que se tinha,
quem se tinha e trazia junto ao peito,
já não vive, não mora, não está.

Céus como tecto 
sem espaços entre as nuvens.

Uma ruína de uma lágrima 
nesta casa sem restos de família. 
Fechar os olhos é como
morder o passado.




 



05/07/2014

Restless

Embala-me na tua voz
coberta de distâncias 
mas cativa no meu ouvido.
Adormeço no quebrantar das marés
de sonhos que desaguam em ti.
Deito-me no leito a que dás vida 
para nós.
Suplico um tempo só nosso...
Só as palavras deixam de ser precisas.
Estou quase pacificado.
Viveria até ao suspiro findado
neste amar...
Trás-me contigo.

Neste silêncio de pedra raida,
ouve a minha voz!


Retira-me da sombra!







04/07/2014

Lado a lado

Eu.
Estou aqui.
Sentado, prostrado, arrumado, 
neste lugar fixo e desacorrentado.

Eu.
Despido de tudo.
Nu de medo, dos segredos, 
das dores repetidas,
das raivas cuspidas, 
dos sentimentos ascos.
Livre das lembranças e assolado 
pelas memórias.

Eu.
com os toques e os tiques 
das desgraças,
com os endereços 
das janelas das lágrimas,
das discussões infindáveis,
das noções de dor
variadamente invariáveis.

Eu e tu.
Somos uma rua funda que acaba 
num deserto de chuva
aonde as lágrimas 
não se ocultam nem secam por si.

Mas existimos eu e tu.