Eu.
Estou aqui.
Sentado, prostrado, arrumado,
neste lugar fixo e desacorrentado.
Eu.
Despido de tudo.
Nu de medo, dos segredos,
das dores repetidas,
das raivas cuspidas,
dos sentimentos ascos.
Livre das lembranças e assolado
pelas memórias.
Eu.
com os toques e os tiques
das desgraças,
com os endereços
das janelas das lágrimas,
das discussões infindáveis,
das noções de dor
variadamente invariáveis.
Eu e tu.
Somos uma rua funda que acaba
num deserto de chuva
aonde as lágrimas
não se ocultam nem secam por si.
Mas existimos eu e tu.