sem espaços entre as nuvens.
Copos vazios e a monte
em cima da mesa travada.
Rachas na pintura das paredes
das salas da casa roxa.
Marcas de pó que assinalam
a passagem de um dedo distraído.
O segredo por dizer
em papel escrito.
A toalha turca estendida ainda,
ruim ao sol seco e ríspido.
O chão de mármore frio,
com os desenhos polidos dos passos de intempéries.
A calma das plantas de enfeite,
sem vida e com o arame selado a ferrugem.
Os passos em eco de outros dias
em que em eco não eram os passos.
Os vidros das varandas
sujos das poeiras de constantes ventos batentes.
Gavetas fechadas e entreabertas,
denotando desleixe, abandonos.
Os lençóis intragáveis
da cama de casal que já não o é.
Perdeu o som da vida o rádio idoso,
doutros serões de companhias dadas.
Loiças azuis prenhas de lábios e marcas de segredos.
Nada.
Nada e nada.
Silêncio e mais silêncios
encaixados e amontoados nos dias.
O esqueleto é a amurada
deste outrora doce lar.
O que se tinha,
quem se tinha e trazia junto ao peito,
já não vive, não mora, não está.
Céus como tecto
sem espaços entre as nuvens.
Uma ruína de uma lágrima
nesta casa sem restos de família.
Fechar os olhos é como
morder o passado.