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17/07/2014

1.56

Vi os silêncios ficarem sem razão.
Vi os momentos ganharem o seu pão.
Vi as viagens a saberem
que trazem um destino na mão.

Vi que as ditas dores,
podem ser só recordações
de uma passagem
de mágoas a esperança.

Vi que as janelas fechadas
podem estar só encostadas
em tímida assunção a desejo
de ar fresco.

Vi que numa palavra
o Sol renasce e tolhe a noite anafada.
Vi que as pedras podem ser chão.
Vi que o caminho é uma escolha,
não uma imposição.

Vi que sei o que é a chuva,
o mar, as sebes verdes e frescas,
as luzes da ponte ao longe
que desejamos apagar num sopro,
a pele dos pêssegos peludos
que me arrepia,
o cheiro dos incensos
imortais imprescindíveis,
a luz dos olhos de uma criança...


Vi agora tudo isto,
numa estranha
voz rouca, forte,
de doçura intensa
que recorda-me
que ainda é bom
estar vivo.