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24/07/2015

Preso

Bebi tudo de um trago!
Sem saborear ou permitir o deslumbre.
Dei ao olhar, a sombra típica daquilo que se distingue
do que nunca está a sombreado!
Neguei o prestígio aos meus actos para não cair em convencimento, 
nem em falta de verdade!
 

Suspirando não respiro.
Busco o ar para o sustento dos pulmões!
Para dar força à elevação de um lamento!
Lamento tal que por ser constante,
Torna-se no substrato do ninho da minha voz,
confundindo-se com o meu timbre e mascarando-se de ilusão...
 

Bebi, 
fumei, 
corri e ainda não parei ou cheguei aonde quer que seja!
Não sou condenado a uma pena!
Sinto-me antes a letra da sentença bem vincada no pergaminho!
Não é que perceba as cores, os cheiros, as músicas e os nadas!
Vejo-as com clareza, distintas!
 

Estando só, não estou nem sequer comigo.
Vivo afastado, longe do centro de mim.
Sobrevivo em sobressalto, 
refugiado na esperança de um dia,
poder enfim, encontrar-me num traço que seja o início da palavra "eu".  

Acredito.
Creio na esperança!
Ao saber da dor tenho de crer na esperança.
Como quem crê em Deus tem de acreditar no diabo!  

Bebi...
Tanto que me secaram as lágrimas!
Mas não consigo acabar com a sede!





13/07/2015

Pueril

Quando eu morrer não quero que ninguém chore por mim!
Não quero manifestações de pesar, fitas, 
lágrimas de ocasião e faces carregadas de dor!

Quando eu morrer não quero um enterro!
Não quero um funeral em modo de carpideira, com gritos e uivos à mistura!
Não quero que a Terra me coma,
nem quero ser queimado numa dessas piras modernas e de valor acrescentado!
Façam do meu corpo algo útil!
Doo-me à ciência!
Eles que me desmanchem e façam de mim o melhor uso!
Estudem os meus males, a minha falência e a minha atempada morte!
Meçam o sangue que me correu nas veias e analisem a sombra que era a minha luz!

Quando eu fechar os olhos de uma vez, não quero nem um pensamento mais sobre mim!
Ajam como se os dias se tornem iguais aos dias que haviam existido comigo neles!
Não disponham de tempo para sequer ponderar na minha passagem nas vossas vidas!
Não se distraiam com o pensamento num rasto e resto de mim!
Trazem por dentro tanto mais importante em que pensar!

Não me recordem!
Apaguem-me e não tenham a tentação de acender uma vela por mim!
Não sou uma memória fácil nem uma lembrança vã e por isso, 
não se recordem de mim! 
Façam as vossas vidas como se eu fora aquele estranho 
que vos deu um encontrão ao acaso, 
num qualquer caminho e que apressado e que nem vos pediu desculpa educadamente!

Quando eu morrer não quero que ninguém chore por mim!
Para quê?
De que vos serve a presença da lembrança de quem amaram e já partiu?!
Assim, quando eu já não despertar e o meu corpo estiver frio e roxo, 
sob a névoa da partida suprema; esqueçam-me!
Quebrem os laços que eram nossos, erradiquem dos vossos sentimentos o meu lugar! 
Ocupem-se dos vivos, daqueles que aqui ainda vão ficar!
Amem-se!
Amem-se sem temor como se a morte não tivesse o seu trono premente!
Toquem-se tantas vezes quantas quiserem!
Falem as palavras todas, mesmo aquelas que só se escrevem para só serem lidas!

Quando eu morrer não quero que ninguém chore por mim!
Não mereço lágrimas.
Nem as tuas!
Já não sou ninguém para Tas secar e a vida é só mesmo assim.

Sou só o vento que entrou pela janela e nem por um segundo se ouviu.