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23/04/2015

Amo a escolha

Escolho.
Não ao acaso nem por intenção.
Não é que tenham escolhido por mim,
mas está a escolha já feita, gravada a ferro e fogo em mim.
Escolho o alto da montanha.
A praia de areia de todas as cores,
com a costa de mil cheiros e mantos de conchas.
Escolho o ar quente e o frio que congela até a ponta dos cabelos.
Escolho a fruta fresca, as maças verdes e duras ao trincar;
as bananas meio verdes, 
meio amarelas que sabem bem ao morder,
mas enrodilham os lábios.
Escolho a estrada aberta e sem se ver o fim do caminho seja que destino for.
Escolho o partir ao chegar, o chegar para ficar.
Escolho o Mar que lança-me a água fria e me arrepia a pele em respeito;
tomo a sua espuma nas mãos e beijo o sal que me fica nos dedos.
Escolho a cama quente, os lençóis brancos sem primor, 
a colcha em desatino prova do tempo de amor.
Escolho os filmes que me tocam e me fazem aprender.
A eternidade dos livros todos que devo e desejo ler!
Escolho os pratos de sopa a ferver, 
a carne no forno sumarenta, o pão quente que me queima a boca;
os talheres que nos pesam nas mãos, 
as toalhas de mesa de desenhos antigos com odores a arca de outra geração.
Escolho a cor preta, azul, verde, rosa, branca, 
castanha, amarela e todas as que habitam entre estas paletas todas.
Escolho a roupa justa e a larga.
A indumentária de Verão e a de Inverno, 
a Lua apresentada, o renascer do dia.
As camisolas de lã dos feitios com torcidos;
as golas altas ou subidas, o decote branco e aberto ao olhar,
o perfume a roupa acabada de secar ao Sol do dia!
Quero as paredes cremes com pintas de fotografias de toda a gente que me é alguém.
Escolho a música que me inunda os ouvidos e me afunda o coração.
Fechos os olhos e vejo as partituras, 
as notas em fila disponíveis e prontas ao atirar da consciência.
Escolho as palavras todas, 
sem ordem nenhuma nem cuidado na repetição!
Escolho as frases e as posturas, as atitudes e as lembranças;
as recordações presentes nas pálpebras dos meus olhos, 
na minha boca, na ponta dos meus dedos e pelo meu corpo inteiro.
Escolho a luz que me traz ao caminho!
A noite que me adormece e repousa das fadigas.
Escolho a vida toda.
Escolho o que já escolhi!
Mesmo que tenha feito a escolha até tarde.
Eu escolhi e outra escolha já não quero nem permito.
Escolho viver e amar assim.









13/04/2015

Poema mudo

Neste silêncio aflitivo descubro-me,
destapo-me e desnudo-me.
Marco o tempo a passos irritados no meu quarto de chão de madeira escura.
Deito-me e volto a erguer-me no mesmo minuto.
Recuso-me e obrigo-me a fechar os olhos.
Choro e repudio as lágrimas que afastavas tu com um beijo certo.
Neste desejo de te ter comigo
queimam-me as ultimas palavras que dissemos.
Corriqueiras como se nada demais fossem.
Partias num até amanhã.
Regressavas num bom dia.
Foste sem voltar.
Estou aqui sem aqui me encontrar nem querer saber de mim.
Toda a musica agora é silêncio sem eco.
As imagens todas estão brancas em cegueira de luz.
As palavras são só palavras que nem trazem significado amarrado.
Formaram a nossa cama em sinfonias de prazer e amor.
A poesia que era nossa está só em pranto.
O som dos poemas que nos aproximou está em maré baixa.
Nem o escuto ao longe nem na preia-mar.

E até o que escrevo é menos que um grito de loucura
quando deveria ser uma partitura mais do nosso amor.









05/04/2015

Espero

Espero... 
Porque eu sou quem sou penso só em ti. 
Não consigo aspirar a mais nada nem sou capaz de ter-me acima do Mar! 
Percorro as palavras ditas e todas as que queria dizer. 
Escrevo-te uma carta de suspiros e teço a trama do lençol branco desta noite esbranquiçada! 
Sou um bocado do que fui e parte meia do que podia ser. 
Não me faltam as forças! 
Só me falta a vontade de abrir os olhos e ter as paredes substituídas por horizontes reais. 
A rosa é o que é. 
Traz com ela também os seus espinhos. 
Nesses espinhos está a minha mão à busca da tua... 
Escrevo o que escrevo sem saber se me lês, 
mas só posso agora escrever. 
Ama-me. 
Porque sou o ardor do fogo que me consome! 
Porque sou a luz que te abriu os olhos e deu o espaço à tua coragem. 
Sou a fonte que te encheu de lágrimas! 
Eu Amo-te aqui. 
Nem longe nem perto, 
sem saber se ainda eu aqui me encontro. 
Tomo o caminho da espera. 
Miro as cadeiras vazias que eu não consigo ou quero mais olhar! 
Travo este poema como um louco esfomeado e furibundo come um pedaço de chão! 
Espero sentado em silêncio de Primavera que aguarda o Verão. 
Mas eu não... 
Eu só espero. 
Não...