Vestido de trapos velhos passeias tu.
Vestido de panos cruzados e no entanto sempre nu.
Um menino das ruas coberto em
faixas de amargura.
Por entre os encontrões e tropeções sobrevives;
pelo meio dos que por ti passeiam indiferentes,
vives.
Acordas a Céu aberto.
Adormeces num jardim deserto.
Nesses teus olhos que já todos os dias choram,
lutas contra os que te pisam e ignoram.
Má vida levas tu,
mão estendida e sem a esmola,
nua e vazia.
A tua expressão é sem sombra de uma infância vivida.
Ao frio e gelo sonhas e a tua coberta
é a noite com a madrugada de mão dada.
Não tens nada nem ninguém a quem chamar teu.
Apenas Deus te guarda como seu.
Pobre nasceste de tua mãe pobre também;
ninguém ao teu encontro vem, nada te detém.
Quando te empurram e cais quem te enxuga
as lágrimas?
Quem te pergunta para onde vais?
Sentas-te cansado na calçada.
Ameaçam-te à pedrada de emboscada!
Há uma voz que se interpõe.
De falas mansas mas autoritárias,
o seu ordenar de lei se impõe.
Tens o carinho de uma mão doce, pesada e uma luz brilha no teu olhar.
Miras-lhe o rosto;
o cabelo longo e negro,
pele amorenada como a tua, cor de Sol de Agosto.
Brincas com os dedos de umas mãos com chagas secas sem sinal posto.
Tomas-te como seguro.
Aquele homem calou a multidão num sussurro.
Beijas-Lhe a face com carinho.
Chora Ele lágrimas de mansinho que lhe humedecem o rosto.
Fechas os olhos,
dormes rendido por um instante.
Quando acordas,
dás conta que partiu sem o vires.
Meu menino,
és tu como Jesus.