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13/02/2014

Rua Vale Formoso de Baixo

Fui à varanda da minha antiga casa,
na rua onde me conheci.
Fui à varanda onde tantas outras vezes estive e procurei ver 
tudo o que me era familiar.
Era natural eu reconhecer algo;
uma coisa mais vulgar como um toldo, 
uma outra varanda em frente, 
um detalhe de uma parede de outro prédio defronte, 
um telhado cheio de ninhos, 
uma vizinha, 
um personagem qualquer constante.
Mas não.
Nem ao passar pelo quarto que foi da minha Mãe e do meu Pai
eu os senti.
Naquela varanda eu vi o Mundo que amava, 
que odiava e que poderia ser meu de sonhar ou temer.

Agora olho para baixo e nem as pedras da estrada são as mesmas.
As montras são outras, 
os que faziam da minha rua, a minha rua;
já não estão nos seus postos.

Quase que chorei.
Eu chorar pelo homem do talho?
Pelo Sr. da drogaria;
o Sr. Timóteo da oficina, 
a D. Adelina e o Lirau, 
a D. Zéza dos brinquedos, 
o Manteigas da ourivesaria, 
pelo Ginja, o ardina e o velhinho cão da taberna da D. Gisela, o Pustoff .
Não reparo em nenhuma pista que mos traga de volta.
Vivem na minha memória.
A oficina do meu Pai é uma ruína sagrada agora.

Fui à varanda da minha antiga casa no Braço de Prata.
Foi a rua onde me conheci.
Agora não conheço nada eu ali.