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26/02/2014

Meu menino

Vestido de trapos velhos passeias tu.
Vestido de panos cruzados e no entanto sempre nu.  
Um menino das ruas coberto em faixas de amargura.  
Por entre os encontrões e tropeções sobrevives;
pelo meio dos que por ti passeiam indiferentes,   
vives.  
Acordas a Céu aberto.
Adormeces num jardim deserto.  
Nesses teus olhos que já todos os dias choram,
lutas contra os que te pisam e ignoram.
 
Má vida levas tu,   
mão estendida e sem a esmola, nua e vazia.  
A tua expressão é sem sombra de uma infância vivida.

Ao frio e gelo sonhas e a tua coberta
é a noite com a madrugada de mão dada.  
Não tens nada nem ninguém a quem chamar teu.  
Apenas Deus te guarda como seu.  
Pobre nasceste de tua mãe pobre também;
ninguém ao teu encontro vem, nada te detém.  
Quando te empurram e cais quem te enxuga as lágrimas?  
Quem te pergunta para onde vais?

Sentas-te cansado na calçada.  
Ameaçam-te à pedrada de emboscada!  
Há uma voz que se interpõe.  
De falas mansas mas autoritárias,
o seu ordenar de lei se impõe.
Tens o carinho de uma mão doce, pesada e uma luz brilha no teu olhar.
Miras-lhe o rosto;
o cabelo longo e negro,
pele amorenada como a tua, cor de Sol de Agosto.
Brincas com os dedos de umas mãos com chagas secas sem sinal posto.
Tomas-te como seguro.
Aquele homem calou a multidão num sussurro.

Beijas-Lhe a face com carinho.
Chora Ele lágrimas de mansinho que lhe humedecem o rosto.
Fechas os olhos,
dormes rendido por um instante.
Quando acordas,
dás conta que partiu sem o vires.

Meu menino,
és tu como Jesus.