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13/07/2014

Ígneo

Não.
Essas palavras tidas deste modo baixo,
não!
Escrevo,
falo,
rumino e cuspo em revolta cardada!

Não gosto da ideia 
de que se deixem repousar,
que se coloquem de molho, 
os pedidos do peito, 
as frases a preceito do coração!
Aquilo que se dá num milagre próprio...
Efémero e impossível de religar.
Não se tomem pelo que não são.

Se a palavra é o que é,
se o que se diz 
é o que a razão não limita,
se o que as mãos e dedos 
traduzem em sons,
se o céu é o céu e eu sou só eu,
porque colocar 
bâton vermelho sedutor,
num porco engordado para a matança?


Escrevo.
Se o faço bem ou não, 
interessa-me de grosso modo.
Para mim,
um minuto é mais que sessenta segundos
e cada segundo,
tem de valer por sessenta minutos.
Mal ou bem.

Só quero que quem me leia,
sinta o que eu sentia,
ou sinta o que já sentiu ou irá ter por 
seu um dia.


O resto, 
é o resto e tem por si,
a verdade que tem.
Podem ser sombras, ecos, fruta e sal doce.
Como dizia José Carlos Ary dos Santos,
"Eu quando digo a palavra merda,
na minha boca ela é também poesia".

Mas façam o que entenderem.
O papel é de todos. 
As palavras não são só minhas.