Essas palavras tidas deste modo baixo,
não!
Escrevo,
falo,
rumino e cuspo em revolta cardada!
Não gosto da ideia
de que se deixem repousar,
que se coloquem de molho,
os pedidos do peito,
as frases a preceito do coração!
Aquilo que se dá num milagre próprio...
Efémero e impossível de religar.
Não se tomem pelo que não são.
Se a palavra é o que é,
se o que se diz
é o que a razão não limita,
se o que as mãos e dedos
traduzem em sons,
se o céu é o céu e eu sou só eu,
porque colocar
bâton vermelho sedutor,
num porco engordado para a matança?
Escrevo.
Se o faço bem ou não,
interessa-me de grosso modo.
Para mim,
um minuto é mais que sessenta segundos
e cada segundo,
tem de valer por sessenta minutos.
Mal ou bem.
Só quero que quem me leia,
sinta o que eu sentia,
ou sinta o que já sentiu ou irá ter por
seu um dia.
O resto,
é o resto e tem por si,
a verdade que tem.
Podem ser sombras, ecos, fruta e sal doce.
Como dizia José Carlos Ary dos Santos,
"Eu quando digo a palavra merda,
na minha boca ela é também poesia".
Mas façam o que entenderem.
O papel é de todos.
As palavras não são só minhas.