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10/05/2014

Piano

Ouço a melodia.
O som que atravessa a minha alma e carne hirta.
As teclas são asas e nelas o vento baptiza-me.
Traz-me de volta a remanescência das remanescências.

A música empobrece-me a ira de todas as iras!

Domina-me sem um toque ou ajuste.
 

Escuto os sons, 
as notas que se evadem e arranjam morada onde 
eu tenho o endereço da minha mente.
São lágrimas que afogam a voz e os olhos, 

que mesmo inundados, 
tem o propósito adquirido, 
suado e pedido, 
de existirem em função das lembranças do que já viram.

Atrás, 

a minha história, o passado aprazado e seccionado.
Em frente ao piano;

a música do presente e do minuto a vir sobrado,
aquela que aos meus ouvidos nunca se cala.


Não fui eu quem a compus, toquei-a como toca a água nas
costas do alcatruz.