Translate

13/05/2014

Metade de nada

Não sou Mar nem Deserto.
Estou longe e aqui tão perto.
Não sou são nem demente.
Não estou nem deixo de estar.
Não me procuro nem me consigo achar.
Não tenho um corpo nem sou uma alma.
Não tenho ira nem possuo calma.
Não sou inteiro e nem metade de um terço!
Não sou uma rocha nem um pálido frágil gesso.
Não tenho nada nem sou pobre.
Não sou gente e sou um nobre.
Tenho sede e a água repugna-me!
Não falo e não me consigo calar!
Não abandono e não estou presente.
Estou aqui, mas mesmo assim, de um modo tão ausente.


Fico e parto.
Como e tenho fome.
Sou uma gota e sou um imenso.
Eu, uma multidão de um só homem só.
Tenho a coragem e o desespero!
Sei a linguagem e comprovo a mudez encastrada!
Ferem-me os toques e quero os carinhos.
Sento-me e não paro quieto. 
Choro, mas sem lágrimas a ver.
Moro no limbo e na Terra estão as pegadas dos meus pés.
Respiro e trago a alma penada.
Não importo, mas eu conto...
Mas não conto, nem importo para nada!

Eis-me aqui e tu não me vês...