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19/04/2014

You

Vejo-te bem na minha frente.
Tocas-me a testa, 
escutas a minha voz,
o meu grito surdo mudo e assente em nada.
Era por ti que eu esperava, 
aqui tinha a minha guarida.
Este local com as minhas pegadas marcadas,
testemunha tal medida.
Se daqui me levassem para outro espaço, 
poiso, cárcere ou lugar;
por ti me forçaria, remoído, 
trespassado, 
moribundo, 
a aqui voltar.
Sou um barco sem quilha, 
prometido ao Oceano escuro, 
féretro, gélido e fundo!
A tua luz é o que me guia à tona pelas ondas brancas 
de retorno a este Mundo.

Os teus cabelos, 
a cana do nariz, 
as pontas dos dedos das mãos femininas,
os teus seios hirtos, 
montanhas quentes do tamanho e alcance das minhas mãos;
as tuas pernas dadas à forma e modo da Lua, 
acenam-me dançando a caminhar na rua!
Quero-me teu prisioneiro, 
quero a minha língua a contornar-te inteira e nua!
És tu poesia e com tal feito de destino a jeito na pedra gravado, 
eu serei um poema.
Nascido naufrago amigado, 
só desejo a ti como se reza aos céus.

Tu és filme, fita, amor, paixão, luxuria!
Sou eu o teu espaço e sala de cinema.
Tu és a única morada da minha rua.
Estes meus olhos de vida espelhados neste argumento, 
seriam só ungidos pelos teus.