Sei o que é um
copo.
Um copo tal qual os outros que tenho guardados no armário.
Conheço-lhe a forma,
sei o que se sente quando se pega nele,
quando lhe encosto os lábios e sorvo o que lá vive.
É-me mais que familiar e mais que rotineiro.
Um copo tal qual os outros que tenho guardados no armário.
Conheço-lhe a forma,
sei o que se sente quando se pega nele,
quando lhe encosto os lábios e sorvo o que lá vive.
É-me mais que familiar e mais que rotineiro.
No entanto eu hoje ao acordar senti sede,
fui à cozinha para beber água,
abri a
torneira e fui à porta do armário branco.
Fiquei a olhar para aquilo onde se coloca a algo para beber...
Não consegui proferir o seu nome!
Fiquei a olhar para aquilo onde se coloca a algo para beber...
Não consegui proferir o seu nome!
Ao som da água a escorrer solta e liberta,
tentei lutar contra mim!
Saber como se diz "copo".
Não era já dono da minha consciência e mente;
compreendi.
compreendi.
Notastes a minha ausência na cama,
vieste em socorro,
presenciaste tudo.
Sentei-te e
sorrio uma vez só aos teus olhos de águas crescentes.
Abracei-te.
Abracei-te.
Em silêncio
notado restámos.
A doença começa a tirar-me de dentro de mim.
A doença começa a tirar-me de dentro de mim.
Como disse o
tal especialista em Alzheimer,
temos de nos preparar.
temos de nos preparar.
Início o processo de decadência,
da demência que me vai levar à escuridão do esquecimento
do meu rosto em qualquer reflexo.
De súbito a tua mão ainda quente da cama
afaga-me a testa em ofertado carinho nascente.
O meu olhar volta a ser teu.
Só uma frase em sentença nas minhas palavras
de voz trémula e sem desejar assustar-te,
sai da minha boca:
de voz trémula e sem desejar assustar-te,
sai da minha boca:
- "O meu maior
medo no peito é não me lembrar de ti!"