Percorro as ruas a pé nos meus dias.
Vejo as casas,
as janelas com as cortinas transparentes
ou de efeitos de cores em padrões oportunos.
Reparo na tua.
Olho para dentro perdendo toda a vergonha,
que torno suplantada,
mirrada, esquecida a um canto da minha curiosidade.
Observo-te a sorrir,
a conversar.
Vejo-te a olhar para as coisas mais simples,
a fazer das rotinas,
rotina em simplicidades comuns.
Tens o que se assemelha a uma casa cheia do que importa;
do que é para ser daquilo a que se trata,
como se de uma verdadeira família.
Apresenta-se tudo no seu lugar.
Isso é bom.
Os teus estão lá ocupando os seus sítios,
estando presentes como devem estar.
Tu tens o teu canto ali firmado,
posto e sentido,
marcado, gravado na posição que deve ser sempre a tua.
Os carinhos,
os momentos,
os toques;
as mãos que ajudam aos discursos e às explanações
das expressões das faces,
das histórias e estórias dos dias idos e presentes.
Assim eu vos vejo.
Até desejo escutar as vozes mas resguardo-me disso.
Já seria demais.
Invejo-te.
Invejo-vos.
Invejo-te e tento esquecer tudo o que acabei por perceber.
Afasto-me.
Parto.
Fujo.
Fica de mim apenas o meu bafo,
a marca da minha respiração quente como uma impressão,
uma prova
febril da minha presença no vidro transformado
em muro da tua janela.