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09/04/2014

Perene

Percorro as ruas a pé nos meus dias.
Vejo as casas, 

as janelas com as cortinas transparentes
ou de efeitos de cores em padrões oportunos. 

Reparo na tua.
Olho para dentro perdendo toda a vergonha, 

que torno suplantada, 
mirrada, esquecida a um canto da minha curiosidade.
 

Observo-te a sorrir, 
a conversar.
Vejo-te a olhar para as coisas mais simples, 

a fazer das rotinas, 
rotina em simplicidades comuns.
Tens o que se assemelha a uma casa cheia do que importa;

do que é para ser daquilo a que se trata, 
como se de uma verdadeira família. 
Apresenta-se tudo no seu lugar.
Isso é bom.
Os teus estão lá ocupando os seus sítios, 

estando presentes como devem estar.
Tu tens o teu canto ali firmado, 
posto e sentido, 
marcado, gravado na posição que deve ser sempre a tua.
Os carinhos, 
os momentos, 
os toques;
as mãos que ajudam aos discursos e às explanações
das expressões das faces, 
das histórias e estórias dos dias idos e presentes.
Assim eu vos vejo.
Até desejo escutar as vozes mas resguardo-me disso.
Já seria demais.

Invejo-te.
Invejo-vos.
Invejo-te e tento esquecer tudo o que acabei por perceber.
Afasto-me.

Parto.
Fujo.

Fica de mim apenas o meu bafo, 
a marca da minha respiração quente como uma impressão,
uma prova febril da minha presença no vidro transformado 
em muro da tua janela.