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09/03/2014

Adocicado sofrer

Meu vagabundo desertado.
Minha vontade de morrer à mingua e fartura de voz.
Tomas a minha língua,
o meu discurso descartado.
Assobias a cantiga que ocultei na metade de uma casca de noz.

Cobres-te com o meu suor com sabor de caldo de outro valor.
Ofereceste-me guarida a montante da minha negada esperança.
Vais a sofrer comigo numa prosaica e apaixonada dor,
transformas o passado descarado na memoria de uma lembrança.

O que és tu?
O que presumes ser em mim?
Trazes-me na garupa do teu incomodado tu?
Que raio queres seja eu, se sou apenas assim?

Coração naufragado nas rochas do tamanho de uma mão.
Fome faminta, fraca foice.
Não tens concílio, indicação;
nem um sim ou um não.
Esse teu pousar acatado nunca deu em algo que se visse.

É o navio sem porto a aportar;
sem quem lhe sinta a falta ou doido da ausência do Mar.
Marinheiro que vive onda a onda numa faina sem rumo,

fim ou definhar.

És como o barco que só sonhou ser mar.

Não te encontro nem te vejo,
para por ti poder velar...