Um milagre
numa esquina de uma ruína de tijolo e betão armado.
Sou um vício sem sentido
como se vício sentido necessite eu ser.
Sou uma marca no pó;
uma impressão deixada, repousada e testemunhada.
Um vazio comprovador
de algo que já não está,
não existe nem sobrevive,
algo que já não é testemunhado.
Eis-me.
Uma gota no fim de um copo;
aquela mesma gota que se descarta com desdém
como um pedaço de pão velho,
uma côdea dura e rija que já não se come ou trinca.
Sou o que não fui mais.
Uma sombra de um rasto;
a leve pegada de uma aparição,
uma figura em contorno de giz que facilmente se pode apagar.
E no entanto sou.
Sei que sou.