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29/12/2013

Albino

Hoje falei de ti a alguém.
Falei da tua morte com a normalidade
de quase duas dezenas de anos que já se foram.
Tinha eu vinte e um.

Sei tudo o que a precedeu.
Tudo o que a sucedeu.
Confessei o que fiz e como com ela lidei.
Como a encarei no meu afrontamento.
Dei-me conta que já não consigo conhecer o teu rosto na minha mente.
Recordo uma ou outra expressão, factos e minutos de momentos.
Relembro palavras.
Umas proferidas com aspereza e outras com alguma pouca doçura, 
algo em que não eras farto.
Sei ainda o que fazias por mim, por nós, sem nada dizer.

O que mais me assustou e que agora quando te escrevo conta me dou, 
foi o facto de já não ter a lembrança da tua voz.

Conheci-te por tão poucos anos.
Não me viste casado.
Feliz ou desesperado.
Não estás aqui agora nem me conheces homem.

Hoje eu falei de ti a alguém.
Do meu Pai.