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18/12/2013

Lei da gravidade

Flores vermelhas, azuis, amarelas e violeta.
Colheres de sopa brilhantes.
Calos nas mãos.
Casas de tijolo cor de tijolo.
Arcadas sobreviventes de palácios idos de outras épocas.
Luz intermitente de um candeeiro público a piscar em anúncio de avaria.
Cheiros de fruta húmida.
Carro molhado findo de lavar.
Correntes de portadas enferrujadas.
Frascos de compota vazios e meio cheios.
Manteiga mole e cor de sol alto.
Cama de hospedaria.
Pão com marmelada a escorrer nos dedos.
Trapos velhos numa colcha de farrapos.
Doces e gomas de cores que não sei dizer.
Seios a descoberto numa praia acesa inundados de Sol.
Janelas de vidros partidos.
Azulejos azuis de paredes de outras eras.
Canaviais ao vento.
Vagina húmida, gotejante e pulsada.
Suspiros brancos na montra da padaria retorcidos em alegria.
Areia molhada a saber a sal.

Dedos molhados dos sumos de mulher.
Listas telefónicas desactualizadas.
Carroça de madeira apodrecida e oca em patine.
Bâton carmim.
Correias numa mala de viagem.
Campo de trigo com promessa de suor.
Regato de água queda.
Passagens aéreas por gozar.
Canecas de café.
Pneus novos.
Odor de perfume feminino.
Água fresca a escorrer apressada no rosto.
Unhas de gel a falsear já sem conta certa.
Cotovelo no tampo da mesa.
Imagem com chuva num canal mal sintonizado.
Um carrinho escala 1/24 sem uma das rodas.
O perfume das páginas de um livro novo.
Cortinas grenás pesadas.
Cheiro a barba feita.
Mesa da cozinha desengonçada.

Passeios com desenhos de outros dias.

Tudo isto traz-me a ti.