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20/12/2013

A mulher sem um nome certo

Noite.
Noites e noites que passam por mim desperta deitada,
no entanto sem descanso ou repouso.
Sou uma mulher da má vida, dama da noite ou puta.
Prostituta ou colo de quem pagar.
Filha de uma cabra como eu,  
de um qualquer porco que me gerou e não deixou névoa de um rosto.
Quem abre as pernas aos que passam e desejam prazeres proibidos,
facilitados em orçamento prévio no meio delas.
Gemo e tremo apenas por gemer e tremer.
Para fazer bem o papel e parecer querer.

Não conheço outra vida mas como desejava conhecer!
Fabrico falso amor por encomenda.
Vendo o meu corpo em cada esquina, 
sou cadastrada no inferno das manhãs, oculto-me da polícia;
vivo não sonhando nas minhas noites de dias feitas.
Banho-me de olhos fechado para não dar-me conta 
dos restos depositados no meu corpo.

Quero sair de todo este mal mas nos lábios do meu filho, 
parece deparar-se presente, 
sempre a mesma negação inocente de quem precisa de mim.
Quedo-me sem pensar.
Detenho esse dom de não pensar mais.


Chega um cliente que como todos os outros, 
envergonhadamente, 
maquinalmente questiona-me o preço do seu prazer.
Preciso dele.
Acabo por ser o seu instrumento.

Nunca serei sua por um segundo que seja.