Demoro-me aqui.
Neste preciso ponto
onde foi o centro
do nosso primeiro encontro.
Sem charmes ou sinais
de nervosismo tardio.
Os nenúfares aglomeraram-se
como numa plateia
que nos tirava as medidas e até
a dicção dos nosso olhos
era sujeita a escrutínio.
Os teus gestos eram sentidos.
Não medidos.Sem esquadria.
Os meus eram a reacção fina aos teus.
Como se eu fosse a água perturbada
deste lago e tu
a pedra redonda que em mim
saltitou à tona,
até que se afunda por fim,
dentro da raiz do meu corpo.
As árvores aqui presentes,
esticadas ao Sol,
despojando as várias sombras,
trazem em si marcadas nos ramos,
as palavras beijadas que soltámos
um de cada vez.
Estas pedras onde tomo o meu lugar,
conhecem os contornos do teu corpo
quase de memória e seriam capazes
de descrever a curvatura
do meu
ventre abraçado, aninhado,
arrumado
no teu peito.
Sei.
Sei que demoro-me agora aqui.
De modo disperso.
Mastigando a saudade.
Meia sem metade.
Olhando a superfície da água,
vendo um espelho
com um reflexo só.
Demoro-me aqui.
Os nenúfares em ajuntamento fiel,
aguardam por nós.
Mas do nós,
só eu
nesta recordação de paraíso,
aqui estou sem dó.