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29/11/2014

Presença

O marco do correio esquecido,
sem cartas ou postais como recheio.
Os passeios de pedras gastas, 
polidas e sujas.
Prosas em desenhos de pedra pisados, ignorados.
As portas com trincos 
que não abrem mais,
com a madeira enrugada, 
cheia de rostos em reflexo fosco e impressões
de tantas mãos.
As dobradiças que permitiam os acessos 
ou negavam a passagem, 
o aceder ao lar de vidas.
Janelas sem vistas, mortas de luz.
A casa com a tinta corroída, enfunada,
arpoada pelas intempéries, 
estática ainda, 
pregada ao solo, 
com as fundações como raiz,
o telhado como copa de árvore ausente.
Por dentro as divisões já não divididas, 
esqueletos de vivências e histórias de quem lá
nasceu e quem morreu, 
de quem aqui tomou o gosto pela vida,
ou desejou desaparecer do mundo dos vivos.
A bancada da cozinha prostrada, 
prestes a cair no chão de madeira desfiado, 
nas paredes de azulejos azuis, 
esboços rudes de linhas antigas 
que já foram imagens familiares.
A água ausente das torneiras 
que mesmo fechadas estão abertas.


Mais um casaréu abandonado.
Sem ninguém que o lembre.