O marco do correio esquecido,
sem cartas ou postais como recheio.
Os passeios de pedras gastas,
polidas e sujas.
Prosas em desenhos de pedra pisados, ignorados.
As portas com trincos
que não abrem mais,
com a madeira enrugada,
cheia de rostos em reflexo fosco e impressões
de tantas mãos.
As dobradiças que permitiam os acessos
ou negavam a passagem,
o aceder ao lar de vidas.
Janelas sem vistas, mortas de luz.
A casa com a tinta corroída, enfunada,
arpoada pelas intempéries,
estática ainda,
pregada ao solo,
com as fundações como raiz,
o telhado como copa de árvore ausente.
Por dentro as divisões já não divididas,
esqueletos de vivências e histórias de quem lá
nasceu e quem morreu,
de quem aqui tomou o gosto pela vida,
ou desejou desaparecer do mundo dos vivos.
A bancada da cozinha prostrada,
prestes a cair no chão de madeira desfiado,
nas paredes de azulejos azuis,
esboços rudes de linhas antigas
que já foram imagens familiares.
A água ausente das torneiras
que mesmo fechadas estão abertas.
Mais um casaréu abandonado.
Sem ninguém que o lembre.