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12/09/2014

Vinho

Dois dedos de conversa.
Olhos dados em falas e contrapontos.
Diálogos, palavras em romaria de um santo nosso,
regados com um copo de vinho verde fresco,
embaucados com um pedaço de pão subtil,
um queijo estandarte, 
um bocado de moira assada ao lume.

Dois copos de vinho em seguida de outros dois beijos.
Com as palavras a tornarem-se escravas ditosas,
os assuntos a serem muitos e tão diversos
quanto as gotas de chuva.
Bebo um trago de vinho tinto rubi do teu copo,
sinto nele a tua boca quente do ultimo trago que deste.
Beijo-ta quando bebo em delícia o teu vinho abençoado.

Ansiedade e ausência...

Um jarrinho de vinho da casa.
Branco para contornar o meu luto negro.
Para acompanhar o meu prato solteiro.
Basta só meio litro.
Já não existem mais diálogos a dois, palavras ao desafio.
Tu já não estás, já não bebes.
Dois copos já não fazem sentido na mesa.

Bebo este vinho, 
filho da uva, do trabalho, luta de quem o fez.
Turva-me a dor, espevita-me a memória.
Faz ver-te aqui comigo.

Dois copos de lembranças.
Uma lágrima de águas minhas num copo só de vinho
que me traz embriagado de ti.