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26/09/2014

Evito

Açoito a quilha da esperança.
Nela mordo a minha prece por dizer.
Regateio o saber da experiência.
Não me importa nem me vale de nada.
Ponho a verdade sob escuta e oiço 
o que se rasga em silêncio.
Sopram-se frases feitas, 
dizeres que nem têm meio, verbo ou sujeito.
Desdenham-se as mãos, os anéis, as luvas, 
as tatuagens com letras sem letra.
Remói-se tudo, tudo é descartável sem o ser.
Prendo-me às luzes sem correntes.
Sou a nota de negro num quadro de cores terra.
Amofino as lágrimas que nada me dizem.
Constroem-se paredes destinadas 
a desabar ao primeiro grito.
Turbantes que escondem não só os cabelos,
mas também o rosto, 
a traça da expressão. 


Não trago a esperança.
Nem a ilusão.
Nem as palavras são minhas.

Açoito as águas,
crio ondas, 
faço oceanos de frases
e evito a lágrima.