Gosto dos céus dos dias de inverno.
Gosto de achar que sou capaz
de contar todas as estrelas.
Gosto das romãs que descascas para mim.
Gosto das palhas secas.
Das camas acabadas de fazer.
Dos cheiros das flores do quintal.
Gosto da lanterna marroquina e dos jogos
de luz e sombra que nos seguem.
Gosto das cervejas bem frescas.
Gosto dos pratos com fundos azuis,
que parecem loiça saudosista.
Gosto das praias sem ninguém.
Do mar sem pessoas.
Do cheiro do princípio da manhã.
Do calor da cama
ao voltar a deitar-me.
Do perfume do café
com os nossos nomes.
Gosto de beringelas.
Gosto de descobrir
música que nunca ouvi.
Das viagens a sítios a conhecer.
Dos peixes com propósito.
Dos cavalos a galope sem sela,
com a crina em liberdade.
Gosto de falar de tudo.
Gosto de poder não dizer nada.
Gosto da razão que voltou.
Gosto deste caminho.
Gosto das ruínas de casas velhas.
Dos sonhos que faço com elas.
De imaginar quem lá esteve,
o que lá se iniciou,
viveu e morreu.
Gosto de parar no tempo.
Gosto de andar de mão dada.
De escutar os comentários
de quem comenta o que se dá a comentar.
Gosto da verdade.
Do silêncio.
De saber o tempo para amanhã.
De ver os carrinhos à escala nas montras.
Gosto da bica com canela.
Gosto de comer pratos diferentes.
Do meu cachimbo.
Do prazer que é chegar cedo ao trabalho.
Do aprender e saber sobre quase tudo.
Gosto de ter uma voz que me permite escutar.
Gosto de ser o que vê e também
quem se deixa observar.
Gosto das manhãs e das noites.
De guiar de noite.
Gosto das férias e das folgas.
Gosto de chegar.
De estar aqui.
Tirando isto tudo,
gosto eu muito de ti.