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04/09/2014

As palavras que eu pinto

Apercebo-me.
Eu não escrevo.
Pinto quadros.
Imagens sem nomes ou com os nomes todos.
Quaquer um.

Cada palavra uma cor,
cada sílaba um traço,
a cada expressão uma pincelada atribuída.
Pinto o desejo.
Pinto a flor.
Pinto a raiva, o fogo, o calor, a lama,
o verde, a cama,  o rosto, o beijo, 
a sede, a nudez, a fome, a surdez.
Desenho com as sombras,
a luz que se oculta.
Dou cor à verdade com tons fortes.

A minha obra prima ainda está por terminar.
O teu retrato.
Conheço o teu rosto tão bem de memória,
que tenho de me obrigar a pintá-lo.

Eu vivo como tinta e tu como tela.