Eu não escrevo.
Pinto quadros.
Imagens sem nomes ou com os nomes todos.
Quaquer um.
Cada palavra uma cor,
cada sílaba um traço,
a cada expressão uma pincelada atribuída.
Pinto o desejo.
Pinto a flor.
Pinto a raiva, o fogo, o calor, a lama,
o verde, a cama, o rosto, o beijo,
a sede, a nudez, a fome, a surdez.
Desenho com as sombras,
a luz que se oculta.
Dou cor à verdade com tons fortes.
A minha obra prima ainda está por terminar.
O teu retrato.
Conheço o teu rosto tão bem de memória,
que tenho de me obrigar a pintá-lo.
Eu vivo como tinta e tu como tela.