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27/06/2014

Doçura

Vou a caminho de casa neste comboio,
na barriga rija deste vagão e dou com isto:


Ela de cor negra fala ao telefone
num dialecto imperceptível.
Parece que ralha,
mas ao mesmo tempo sorri aos poucos.
Agitada, mas solene,
com a voz no volume um pouco alto.

Ele branco, está mudo, a cara fechada,
olheiras a modo de rosto sério.
Olha para nada nas janelas da carruagem.
As suas mãos juntam-se em jeito de quem aguarda.
Gesticula os dedos no pulso do relógio dourado.
 
Ela desliga a chamada.
Em silêncio sorrido aparta-lhe a mão direita depois de lhe puxar o braço.
O rosto dele revira-se.
Ele transfiguradamente doce a aconchega num abraço natural e sem rasto.

Ele branco.
Ela negra.
Lindos.
Os dois na mesma cor.