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17/12/2014

Silêncio vidrado

Pedi-te todas as tuas palavras.
Pedi-tas sem me esquecer de nenhuma.
Pedi as palavras que conhecia,
as que não sabia,
as que ficaram por dizer,
as que eram repetidas ao exagero,
as que eram perfeitas e imperfeitas demais,
as que nunca proferiste,
as que te eram amargas, 
doces, afiadas, doentias, 
bastadas, magras, acenadas, 
choradas, despidas,
sofridas, envergonhadas, ostentadas, 
porosas, sujas, amadas, 
abraçadas, apoiadas, apertadas, 
apaixonadas, sonhadas, soçobradas...

Supliquei-te as palavras todas.
As palavras que eram intimas comigo.
Contar-me-iam-me tudo o que existe para saber.
Sumariam os restos do que ficavam 
nos cantos dos livros por ler.
Seriam o lençol feito de linho da minha mortalha,
a veste para outra vida, 
a presença mutilada sem falha.

Pedi-te as tuas palavras todas.
Em silêncios de tijolo rude me respondeste.
Não tinhas nem palavras 
para me dizer!