Sem refrear a respiração para não dares conta
de que estou perto.
Ficaria aqui,
neste manto de sol e chuva,
com as pedras da calçada por companhia,
com as linhas assombradas do eléctrico
a imitarem as linhas da minha mão.
Ficaria sobre o mar,
como a gaivota que se banha de vento e toca
as ondas sem quebrar a superfície,
para assim não perceberes
que me deito a teu lado.
Restava-me aqui ou acolá,
sem ninguém a inquietar-se com a minha ausência,
sem a importância de aqui estar ou ser.
Sem a sombra que me revelaria em traição doce,
sem os nós dos dedos a estalarem
ao ritmo dos teus suspiros.
Ficaria a um canto,
a sonhar-me no teu colo,
continuadamente manso e sem dor,
para não saberes que me tinhas no teu regaço.
Dar-me-ia de um jeito que seria só
o meu modo único de te amar.
Ficaria,
mas serias tu a não querer ficar.