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20/12/2014

O inverso

Carrego os teus pesos no meu corpo e não me faz
peso nenhum nem trás esforço ou dor nova.
Carrego o cerco que te cerca,
prende e arremessa para o vazio,
mas arrebento-o, liberto-te,
solto-te as amarras,
dou-te à vertigem do abismo
que queres tanto abraçar.
Suporto as ausências, as indiferenças,
as metades por completar.
Percebo que o fechar de olhos
não é garantia de sonhos ou
de um sono conquistado ao desespero.
Ergo-te sem me baixar.
Escalo a parede abrasiva,
a que me fere por dentro,
que me divide sem ser ao centro,
corta-me pela raiz, nega-me à luz,
a que eu deixei aqui erigir porque foi o que quis.
Noto num segundo que vim ao mundo
por não saber ao que vinha,
mas que se o desejar,
o abandono num tempo mais curto
que as harmonias entre as ondas do Mar.
Sou fraco, forte, firme, forrado de mágoa.
Sou o espaço entre os teus passos,
o mesmo que se ignora ao caminhar.
Vou quando vens.
Ausentas-te quando estou.
Demoras-te sempre que a senda me abraçou.

Carrego.
O que não pesa em mim,
mas que te pesou.