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07/12/2014

Ilação


Sei de um outro tempo.
Sei de um outro Agosto que não este.
Sei de um minuto traçado num momento a desenho em mão livre
sem sinal de desgosto.
Sei da areia irada com a chuva,
da chuva que se nega às dunas.
Sei da estrada que se tornou num único caminho,
do destino das terras paradas num outro tempo.
Sei do que se discute em discursos fartos em ar.
Sei das sedes, das fomes, das guerras e mortes.
Sei dos que já não guardam mais lágrimas,
dos pedaços de céu que se reclamam,
dos podres regurgitados que ficam à tona nos copos
em reuniões dos que se acham em direito de decidir seja o que for por nós.
Sei das anotações nas margens nas mentiras desavergonhadas,
das verdades silenciadas,
das falsas verdades denotadas em friezas.
Sei das sebes em cercados como muros em altura de ingenuidade,
moradas dos segredos aflitos que teimam em querer deixar de o ser.
Sei dos olhos que nasceram só para ver em infinito,
dos que não fatigados, vivem e habitam no horizonte.
Sei dos corpos nus, molhados e suados em luxuria colhida.
Sei dos pedaços de história esquecidos em valas de terras inférteis negras,
de mortos vivos e de vivos mortos.
Sei de passados sem história e de futuros ausentes de passado.

Sei de quase tudo.
Sei de ti.

Estupidamente,
como quem não é capaz de olhar na luz viva,
não sei é mesmo de mim...