Vinha sentado no autocarro,
de costas para a marcha.
Vi as imagens a passar pela janela manchada.
As bermas da estradas,
sujas de lixo, folhas,
ramos descartados e jornais já mortos.
Embalei-me neste remoinho de paisagens repassadas,
vistas doutro modo,
com o princípio a ser o fim.
Vi os rostos das pessoas,
os olhares, as vozes.
As conversas ao telefone que de privadas
passam a públicas,
os segredos que deixam de ser segredados.
Apego-me aos livros que uns lêem.
Indefiro as vidas pelas caras.
Aborreço com as músicas que me afrontam.
Reconheço uns, ignoro aqueles e acalento outros.
Moram ali como eu
durante os minutos da viagem em solavancos
premeditados e medidos,
travagens mais ou menos perdidas,
com o cambalear de quem dormita,
discussões sobre atrasos os adiantamentos,
barulhos, falas, doses de ruídos,
partes de odores e testemunhos de amores
e desavenças.
Vinha sentado no autocarro,
de costas para a marcha...
Mas estava de frente para pensar e reflectir
nestas vidas, hábitos e maus hábitos.
Eu lá ia e eles estavam comigo.
Desde a minha paragem até uns outros mundos...