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27/10/2014

Remoinho

Não preciso de razões. 
Dou-me ao mar todos os dias, 
mas o mar não me sente. 
Tenho as pálpebras em sangue ruivo. 
O olhar em carne viva, 
aberta, exposta, cuspida!

Quero que ele me mate!
O mar não me dá retorno em resposta.
Vai e vem nas ondas sem sequer um olhar em troco.
Banho-me em esperança.
Banho-me em verdade. 
Solto um grito em sequência com a cadência 
das ondas de águas melhores que eu. 
Acabo por já não distinguir a minha voz.
Logo as palavras morreram. 

Não sei mais de que falam ou o que dizem. 
Sei só que não chegam para nós, 
para tudo isto. 
Mas não me importam.

A cruz é só pesada nos passos em que a carregamos.
Depois as costas não a sentem e até o céu 
passa a parecer ficar mais baixo.
As palavras só 
não chegam para mais nada.
Se os mudos também amam,
porque não podemos amar nós 
sem palavras faladas também?
Despojados de vozes.
Como um quadro cheio de cores vagas.