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23/08/2014

O contrário da dor

Rasgas as pedras.
Abraças os vendavais.
Beijas as chuvas.
Encurtas os desertos.
Estendes os céus ao tamanho 
da palma da tua mão.
Mordes os pés das montanhas.
Penteias os picos cobertos de neve.
Bebes a terra nunca pisada.
Alimentas as tempestades 
com o mel dos teus olhos.
Matas a sede ao Mar Negro,
dás vida ao Mar Morto.
Contigo não há a conta certa,
resto zero, noves fora.
Não existe unidade de medida.
És sem forma ou geometria.
Tomas os raios dos céus como teus,
as trovoadas soam a suspiros dentro de ti.

Tudo isto é sonho sem pesadelo.
Faca sem fio ou gume.
Santos com corpo e alma de homens.
Luz sem encadeamento.
Estas são razões sem nexo, 
mas são as tuas razões em razão.

Tocas a minha testa,
eu tenho paz em mim.
Beijas-me,
resto-me na concha da tua mão,
não sei mais o que é um lamento
nem a cor da dor.