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10/08/2014

Cresce

Que desperdício...

És a seara meia colhida,
meia deitada ao abandono fácil!

És a mágoa estendida ao sol a secar,
sem esperança de ser mais nada 
do que uma peça de roupa usada esquecida!

És a surpresa que já foi contada!

A estrada que sem tracejado e sinais,
dá ao sentido, o destino em desatino!

És a ultima gota de chuva que nem caiu!

És o bocejo enfadonho!

O encolher de ombros repetido!

A boca em face de repulsa!

És a promessa que foi feita
mas nascida sem razão para ser cumprida!

És o que é podre quando ainda estava na árvore!

És a fétida ferida granguenada a cheirar a amêndoas doces!

És a lua que não apareceu!

O grito irado que não se deu!

O domínio sem feudo!

A espada sem a bainha!

O fogão sem cozinha!

O propósito despropositado!

O remo partido e solteiro!

Os serões em silêncio 
com a televisão a servir de fronteira aos dois!

O remédio com data expirada em embalagem por abrir!

És o balde furado que quer acima de tudo,
conter as águas perdidas paradas!

És o livro sem o ultimo capitulo!

A mensagem por enviar!

Um segredo que nem interessa nem é segredo!

És a meta sem ponto de partida!

És a definição radical do que é a ilusão burra!

O ferrolho sem porta!

A janela sem horizonte!

És o mito sem lenda!

O retiro sem silêncio!

A bigorna sem o martelo justo do ferreiro!

O concerto do que está concertado!

És a pedra no passeio que se pontapeia para o outro lado!

És o surdo que acredita que ouve bem e berra nem sabe porquê!

És a desilusão permanente e em sátira sem graça!

És o cavalo sem ferradura!

A casa sem gente!

O viver sem o sonho!

O vinho sem mosto.


Desenho-te e exponho-te!
Vê e toma tento!
Sobe ao mundo!

Não sejas húmus!
Sê o rebento.