Não te escrevo cartas,
não te descrevo ou indico.
Escrevo-te como se fosses
uma primeira palavra,
aquela do início do meu princípio.
Escrevo-te.
Não te exulto
porque te desejo só minha.
Escrevo-te sem me falhar uma só letra.
Não digo o teu nome e é ele
o nomear da minha sina.
Escrevo-te.
Sem levantar a caneta do papel branco,
sem um movimento a mais ou a menos,
sem deixar a tinta fugir e tirar do teu signo
o meu pranto.
Escrevo-te.
Começo a perceber que ao escrever-te,
decoro-te.
Como quem faz um verso
com carne e sangue,
como quem sabe que estas lágrimas
são tuas e não à sorte.
Escrevo-te.
O teu corpo,
a terra e espuma.
A tua mão o estirador da minha culpa.
Escrevo-te sabendo em clareza,
que és o fogo ardente e gemido da minha chama.