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01/09/2015

Retrato

Vi um livro despojado.
Deitado a um canto sumido onde a porcaria toda se junta.
Chorava ali escancarado, 
sem saber onde é que estão as páginas que lhe faltam; 
as que foram subtraídas por alguém com raiva às letras.
Não consegui ficar indiferente e sem perder o momento, 
nem me preocupar com o tipo de livro que era,
agarrei-o pela cintura e sacudi-lhe o sangue pisado.
Disse-lhe sem pudor que mesmo com capítulos órfãos,
ainda lhe posso chamar livro.
Sorriu-me em descanso quando se deu conta do que todos aprenderemos:
Com o tempo todos nós, 
livros ou homens, 
vamos ficando sem muitas das folhas com que começamos.
Mesmo assim ainda somos a soma de tudo.
Um retrato de uma essência. 
Mesmo que seja a sépia.