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11/08/2015

Viver assim

Dividimos tudo.
Somos experimentados em compartimentar os pensamentos, 
as acções a tomar, as palavras a dizer ou a silenciar.
Temos cercas que guardam e protegem de contágio, 
as vidas dentro da nossa vida,
as nossas actuações enquanto profissionais, pais, filhos, 
amigos ou malditos conhecidos.
Tomamos este tipo de acção unicamente por uma questão de funcionalidade, 
de tentativa de controlo ao máximo do que é incontrolável, 
num acto de sobrevivência só nosso e tão pouco inteligente.
Mas assim funcionamos, vivemos e lidamos com todos os aspectos que nos 
influenciam, transtornam, tocam, 
modificam e nos definem para o bem ou mal.
Resolvemos os problemas e guardamos as soluções em gavetas acessíveis, 
para acumulando em arquivo de experiência;
as poder dispor à mão numa ocasião que requeira tratamento igual 
ou semelhantemente adaptável.

No entanto, para o nosso espanto e prazer,
nasce por vezes milagrosamente, 
algo que por ser tão inesperado, puro e são;
nos faz sorrir à larga e pressupor que a vida não é de modo nenhum 
totalmente seccionável.
Algo que mostra que existe o destino, esse ente esquecido, 
que nos faz acordar dos marasmos, 
das rotinas e não ter a necessidade de classificar a razão de ser de um sorriso,
numa empatia presente e distante de uma outra voz.

Gosto de viver assim.
Quem me vê, vê-me.
Com os meus rituais e modos que me classificam, identificam e individualizam.
Sou este nome, este corpo,
olhos e pessoa que vive agora a descoberta da vida sem divisórias.
Esta descoberta que é tão boa se for também partilhada.


Não dividamos tudo.
Tudo pode ser nada.