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26/08/2014

O sentido

Vejo um barco 
que chora à chegada.
Este navio 
chega ao porto à hora marcada.
Pára e definha.
Deixa de ser navio 
só porque detido no cais,
não navega.
Não é navio mais.
Não faz o que 
os outros navios fazem.
Não parte 
nem se entrega ao mar.
Este barco é aquele 
que foi baptizado com
lágrimas novas e antigas.
Que no ventre 
viu histórias de gentes.
Que pela popa 
se despediu de tantos portos.
Na proa 
deu a conhecer alegrias, 
boas novas e vivas.
Este navio 
vai ficar até ter um destino.
Talvez morra aportado.
Talvez saia 
sem rumo em desvario. 
Este navio é um corpo,
uma alma molhada 
que flutua,
que foi nascido 
para cortar as ondas.
Tem saudade da ausência,
como quem só está em casa 
na rua.

Sente-se só livre no Mar.